Irmãos e amigos:
Chegámos à Quaresma de 2010! E chegámos a esta Quaresma, com uma motivação acrescida pelas próprias circunstâncias da Igreja e do mundo: o mundo, mais longínquo ou mais próximo - que hoje de todos se aproxima, mediante a comunicação social - e em que tantos homens e mulheres vivem, lutam, sofrem, para que a sua vida corresponda aos seus sonhos e, antes de mais, às suas necessidades imediatas! E [chegámos também a uma Quaresma com uma motivação acrescida pelas circunstâncias] da vida da Igreja, porque em Portugal, concretamente, se prepara a vinda próxima, do Papa Bento XVI, em Maio! E nesta Quaresma [a Igreja] quer responder já com aquele Jesus Cristo que é o seu constante suporte e motivação.
E precisamente de Jesus Cristo nos fala a mensagem papal - como não podia deixar de ser - para esta quaresma, dizendo-nos, ou lembrando-nos, um trecho da carta de São Paulo aos Romanos, afirmando que «a justiça de Deus se manifestou», e manifesta, «mediante a fé em Jesus Cristo» [Rom.3,21-22]!
A justiça de Deus! O modo que Deus tem, tão surpreendente sempre, - dois mil anos depois continua assim - de Se revelar naquilo que Ele é, e naquilo que Ele quer ser para nós, até para nos restabelecer numa comunhão de que não desiste.
Em Jesus Cristo, - que é todo o objecto da nossa fé, e nEle com certeza a Trindade Santíssima - em Jesus Cristo, [dizia] Deus manifesta a sua justiça! E nós acreditamos que é assim como se manifesta em Jesus Cristo, que Deus quer continuar a responder ao mundo, a esse largo mundo a que aludi, e ao pequeno mundo das nossas vidas habituais!
Porque com Jesus Cristo - e nesta Quaresma - nós havemos de crescer para Deus, em termos de finalidade absoluta, em termos de maior vontade da alma, em termos de disposição renovada das nossas próprias aspirações!
É o que significa essa prática quaresmal tão importante da oração. Nós acompanhamos Jesus, no princípio da sua vida pública, estando no deserto. No deserto consegue fazer, no sossego exterior que consiga realizar, sobretudo na concentração interior que consiga manter, Jesus diante do Pai, - princípio e fim das suas vidas - para a partir do Pai se reproduzir em tantos actos de misericórdia, em tantos actos de compaixão, em tantos actos de presença, naqueles três anos da sua vida pública, que depois continuam, nestes dois mil anos da vida da Igreja, dos seus discípulos, com o seu Espírito, como estamos agora em 2010.
E depois também e dessa oração [havemos de] tirar uma atitude de profunda solidariedade, uma atitude em que nos torne, no dia-a-dia, uma presença constante desse mesmo Jesus Cristo diante dos irmãos e irmãs, que precisam de alento, [que] precisam saber que a partir de Deus, e a partir da motivação evangélica, a partir da nossa própria proximidade e compromisso, as coisas podem retomar o seu curso, no melhor sentido dele.
E com tudo isto, uma conversão, uma penitência - para utilizar este termo clássico e tão importante de manter - [uma conversão, dizia eu] de uma vida que queira ser inteiramente repassada pelo espírito do Evangelho das Bem-aventuranças.
Há tanto que fazer em nós, em termos de disponibilidade para os outros; em termos de pobreza oferecida, na repartição constante de todos os recursos que tenhamos aos nosso dispor, porque para todos se destinam também; em termos de ligação ao Pai e no Pai encontrando a fonte permanente da misericórdia em relação a tudo e a todos. Estarmos, assim, com Jesus Cristo, durante esta Quaresma, é aquilo que eu vos proponho, é aquilo que o Papa nos propõe, é aquilo que a Igreja lembra sempre, é aquilo que a Igreja oferece ao mundo, porque não tem mais nada para oferecer, se não esta justiça de Deus, que em Jesus Cristo se realiza e tem o seu permanente recomeço.
Uma Santa quaresma, que nos preencha a todos dos sentimentos divinos, para a resposta mais completa, mais cabal, mais necessária e mais precisa, às necessidades do próximo, porque só com esse mesmo próximo, e próximo dele, nos reuniremos também nesta comunhão festiva que a Páscoa celebrará!
Fonte: Diocese do Porto
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