segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Carta às Famílias 2009

 

image

Caríssimos casais católicos da Diocese do Porto, com todas as vossas estimadas famílias:

A Missão 2010 que estamos a inaugurar destina-se a levar ainda mais além, na quantidade e na qualidade das propostas e dos destinatários, o anúncio evangélico que nos constitui como Igreja para o mundo.

A luz do Natal de Cristo há-de rebrilhar na Missão, para iluminar, pacificar e estimular a todos, especialmente os que mais tocados forem por carências materiais e espirituais de qualquer género. Através de vós, Cristo – que nasceu, deu a vida e ressuscitou para estar connosco para sempre – quer chegar a todas as pessoas e a todos os espaços e ambientes, para que o Evangelho continue a ser ouvido e experimentado.

O que recebeis como “presente” de Deus Pai é o que tendes para presentear o próximo: a pessoa viva de Jesus Cristo, na força do seu Espírito e na caridade do seu coração. Recebê-lo e oferecê-lo é a vossa própria realização matrimonial, familiar e apostólica.

É verdade que os Doze Apóstolos “deixaram tudo” para seguir a Cristo e se tornaram testemunhas da sua ressurreição. Também sabemos que este serviço apostólico em sentido estrito continua na Igreja, através dos Bispos e dos seus cooperadores ordenados. Mas os primeiros relatos cristãos e a experiência bimilenar da Igreja mostram-nos que o anúncio vivo de Cristo é participado por muitos outros baptizados e crismados, que manifestam no mundo a graça específica desses sacramentos: a filiação divina e o testemunho do Evangelho.

Entre todos, têm lugar de grande relevo e oportunidade os casais cristãos, que o sacramento do Matrimónio transforma em sinais vivos do amor de Cristo e da Igreja: o amor que recebem de Cristo e entre si partilham é a própria substância de que vivem as suas famílias e que irradiam à sua volta, por vizinhos de perto ou mais longe.

O que tem sucedido neste sentido com a entreajuda espiritual e humana de muitos casais cristãos, espontaneamente ou através de movimentos de espiritualidade conjugal; o que vai crescendo em apostolado de casais e famílias, que se tornam evangelizadores de prédios, bairros ou países distantes; o maior envolvimento de casais nas várias formas de evangelização paroquial: tudo isto me leva, caríssimos casais católicos da Diocese do Porto, a convocar-vos para a Missão 2010. Sem vós, ela não se realizaria plenamente; convosco, ela será verdadeiramente eclesial, pois integrará as “Igrejas domésticas” que as vossas famílias são e hão-de ser ainda mais.

Relembro-vos o exemplo dos primeiros casais cristãos, biblicamente atestados, como é o caso de Áquila e Priscila, grandes colaboradores de São Paulo. Os Actos dos Apóstolos 18, 2 ss, dizem-nos que o acolheram em Corinto, proporcionando-lhe tecto e trabalho. Na Carta aos Romanos 16, 3-5, Paulo pede que os saúdem, com estes magníficos termos: “Saudai Prisca e Áquila, meus colaboradores em Cristo Jesus, pessoas que, pela minha vida, expuseram a sua cabeça. Não sou apenas eu a estar-lhes agradecido, mas todas as igrejas dos gentios. Saudai também a igreja que se reúne em casa deles”. Que a casa deste casal servia para a reunião dos primeiros cristãos também Paulo o refere na sua 1ª Carta aos Coríntios 16, 19. E que não se limitavam a acolher, mas também catequizavam, é atestado pelos Actos dos Apóstolos 18, 24-26, neste passo esclarecedor: “Entretanto, chegara a Éfeso um judeu chamado Apolo […]. Começou a falar desassombradamente na sinagoga. Priscila e Áquila, que o tinham ouvido, tomaram-no consigo e expuseram-lhe, com mais precisão, a ‘Via’ do Senhor”.

Roma, Corinto, Éfeso: - Onde não chegaria a “missão” deste casal cristão, colaborador de Paulo e dos primeiros evangelizadores! – E, se eles fizeram tanto na primeira missão, quanto não poderão fazer com eles os casais católicos da Diocese do Porto na Missão 2010!

Deixai-me contar convosco, prédio a prédio, bairro a bairro, paróquia a paróquia. Sei que o posso fazer, pelo dinamismo que tenho verificado em tantos de vós. Deixai-me – a mim e a todos os meus colegas sacerdotes da Diocese – contar convosco como Paulo pôde contar com Áquila e Priscila!

+ Manuel Clemente

Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José, 27 de Dezembro de 2009

 

fonte: Diocese do Porto

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Missa de Natal - Homilia

 

PARA VIVER E OFERECER A VERDADE DO NATAL

Amados irmãos e irmãs, iluminados todos pela glória do Presépio

“E o Verbo fez-se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, que lhe vem do Pai como Filho Unigénito, cheio de graça e de verdade”. Este curto passo do Evangelho escutado dá-nos o essencial do que celebramos no Natal de 2009, tão distante e afinal tão próximo do que aconteceu em Belém de Judá. Assim acontece com as coisas essenciais: são poucas mas nunca acabam, coincidindo com a nossa humanidade comum, tal como foi criada e depois assumida pelo próprio Deus.

Uma mulher que dá à luz um filho, um homem que os guarda e admira. Juntaram-se pastores e depois uns magos do Oriente. E milhões e milhões, como nós agora, nesta catedral transformada em presépio. – Para ver o quê? Precisamente o mesmo que o Evangelista de há pouco: “Nós vimos a sua glória, que lhe vem do Pai como Filho Unigénito…”.

É uma criança a nascer e o próprio Deus a dizer-se dessa maneira. Trinta anos depois será um homem a morrer e Deus também se dirá assim. Como entretanto se disse emigrado no Egipto, a crescer e a trabalhar em Nazaré e a anunciar um Reino que se abria no mundo para nos realizar em Deus. – Que bem o referiu Santo Ireneu no século II: “Há um só Deus que, pelo seu Verbo e Sabedoria, criou e ordenou todas as coisas. O seu Verbo é Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos últimos tempos se fez homem entre os homens, para reunir o fim com o princípio, isto é, o homem com Deus!” (Ofício de Leitura, 4ª feira da 3ª semana do Advento).

 

+ Manuel Clemente

Sé do Porto, 25 de Dezembro de 2009

 

fonte e resto da homilia: link